31 Janeiro 2025

“Gladiador II”: Entre Tubarões, Macacos e uma Nova Roma Digital

A aguardada sequência de Gladiador, dirigida por Ridley Scott, chega com um visual grandioso, mas sem a mesma essência épica do original de 2000. Apesar da presença de Paul Mescal e Denzel Washington no elenco, o filme é uma experiência que diverte até o momento em que deixa de ser.

Você saberá exatamente quando Gladiador II ultrapassa os limites da plausibilidade: é a cena que envolve um tubarão.

Existem filmes ruins que conseguem entreter e outros que apenas se arrastam. Infelizmente, essa sequência desnecessária oscila entre os dois extremos. Situado 16 anos após os eventos do primeiro filme, o novo longa-metragem recupera parte do esplendor visual, mas perde a majestade e a profundidade narrativa que fizeram do original um clássico. No fim, é o tipo de produção que pode agradar em uma tarde preguiçosa, mas logo encontrará sua verdadeira utilidade: ser exibida em várias telas ao mesmo tempo no corredor de eletrônicos de lojas como o Costco.

Ridley Scott e sua Roma reinventada

Ridley Scott, que nos últimos anos tem revisitado sucessos antigos, apresenta Gladiador II com uma reconstituição digital impressionante da Roma antiga, embora se dê ao luxo de ignorar a precisão histórica. Em certos momentos, isso chega a ser cômico. Uma cena em particular mostra um personagem lendo o fictício Daily Papyrus enquanto toma um café da manhã — um detalhe anacrônico, já que o café só chegaria à Europa 1.500 anos depois. A reação do público? Um riso indulgente e uma leve frustração por não terem ido mais longe e dado ao personagem um iPad.

Intrigas e política no século III

E quanto à trama? Sim, ela existe, e até demais. Onde o primeiro filme apostava em uma narrativa linear — um herói muscular que se torna uma lenda e derrota um imperador decadente —, Gladiador II mergulha em uma teia de conflitos políticos e intrigas do século III.

O enredo principal gira em torno de Hanno (Paul Mescal), um europeu enigmático que começa como capitão da guarda no reino africano da Numídia. Após um ataque estrondoso da frota romana, recriada com a ajuda de efeitos especiais de ponta, Hanno e seus companheiros são levados à Cidade Imperial. Lá, suas habilidades como lutador de arena, evidenciadas em um combate contra um gigantesco babuíno digital, chamam a atenção de Macrino (Denzel Washington), um político ambicioso, e dos jovens imperadores gêmeos Geta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger). Geta é astuto e cruel, enquanto Caracala é ingênuo e obcecado por seu macaco de estimação.

Vingança, traições e um novo rumo para Roma

Hanno busca vingança contra o general romano Marcus Acacius (Pedro Pascal), responsável por conquistar a Numídia e matar sua esposa guerreira (Yuval Gonen). No entanto, Marcus, longe de ser apenas um vilão, revela-se um personagem complexo, disposto a derrubar o regime imperial e restaurar a República ao lado de sua esposa, Lucilla (Connie Nielsen), que retorna ao papel da filha de Marco Aurélio.

Com reviravoltas que envolvem traições, batalhas e alianças inesperadas, Gladiador II tenta expandir o universo do primeiro filme, mas, em meio a tantas subtramas, perde o foco. Apesar de momentos de grande impacto visual, o filme carece de propósito, deixando uma sensação de vazio ao final.